Eric Ferraz, de 24 anos, foi atingido por cinco tiros, dos sete disparados contra ele quase à queima-roupa na madrugada do ano novo, em uma festa de réveillon em Viçosa. Dos outros dois tiros, um pegou de raspão na nádega de uma jovem, e o outro, tudo indica, não feriu ninguém.
Na noite desta quinta-feira (5), o Tudo na Hora obteve, com o delegado que preside o inquérito, a confirmação de um fato que causou surpresa e irritação na cúpula da segurança pública. O corpo de Eric foi sepultado com todas as cinco balas ainda alojadas dentro dele.
O Instituto Médico Legal (IML) de Maceió, quando recebeu o cadáver nas primeiras horas do domingo (1º), não retirou nenhum dos projéteis – provas fundamentais em qualquer inquérito de homicídio – e liberou o corpo para sepultamento. A alegação, no IML, é de que não havia no instituto um aparelho de raio-x para apontar onde estavam alojadas as balas.
Por isso, terá de ser feita a exumação do corpo, a única forma de se obter as provas materiais que podem apontar a arma (ou armas) de onde saíram as balas que mataram o modelo.
Exumação deve ser nesta sexta
Com autorização da Justiça, a exumação será realizada nesta sexta-feira (6), provavelmente já pela manhã. O caixão com o corpo será retirado da cova onde está sepultado, no cemitério de Marechal Deodoro (onde o rapaz morava com a família), colocado em um rabecão e encaminhado para o IML. Depois de retirados os projéteis, os restos mortais de Eric voltarão para um segundo e definitivo sepultamento – um sofrimento adicional para a família do rapaz, que teria sido poupada de mais essa dor se o IML tivesse feito o que devia fazer. E uma falha de procedimento que causou, pelo menos, atraso de vários dias nas investigações – isso se não as tiver comprometido gravemente.
Não havia sido divulgado, até a noite desta quinta-feira, o nome do médico-legista que estava de plantão no IML e foi o responsável pela liberação do cadáver para sepultamento.
O exame de balística nos projéteis que agora devem ser retirados na exumação é que poderá apontar a arma, ou (numa hipótese remota, mas que não é descartada) as armas de onde saíram as balas.
O policial civil Jaysley Leite de Oliveira, 31 anos, que está preso desde terça-feira (3), e seu irmão, o comerciante Judarley Leite de Oliveira, que permanece foragido desde a madrugada do crime, são apontados no inquérito como autores do homicídio.
Policial deu os tiros, diz delegado-geral
Na noite desta quinta-feira o Tudo na Hora conversou, por telefone, com o delegado-geral da Polícia Civil, José Edson, que estava fora do Estado e deve retornar nesta sexta.
Ele foi claro: “O policial civil Jaysley era o único dos dois que estava armado. Foi ele quem efetuou os disparos que mataram Eric. Isso está no inquérito”.
O repórter perguntou se foi feito, nas mãos de Jaysley, o exame residuográfico de pólvora – nesse procedimento, a perícia aplica nas mãos da pessoa uma substância que detecta resíduos de pólvora deixados pelos disparos de arma de fogo. “Eu pedi ao delegado [Belmiro Cavalcante] que solicitasse o exame”, respondeu o delegado-geral. “Mas essa prova técnica, nas circunstâncias desse caso, não é 100% confiável. O suspeito teve tempo de fazer uma assepsia nas mãos, até cortando as unhas, para evitar que o exame detecte qualquer resíduo”, explicou. “O que nos convenceu foram as testemunhas oculares, que narraram os fatos com riqueza de detalhes”.
Mesmo aí, há dúvidas fundamentais, como se verá.
Acusados tiveram 48h de vantagem
Outra pergunta feita ao delegado-geral: por que o policial acusado, Jaysley Leite de Oliveira, teve tanto tempo (mais de 48 horas) para desmanchar provas? O crime ocorreu na madrugada de domingo, mas o inquérito só foi aberto na terça-feira. “Isso ocorre por causa da carência de delegados”, disse José Edson. “O titular só retornou para Viçosa na terça-feira, porque os delegados ficam responsáveis por diversos municípios. Mas o plantonista que estava em Viçosa, delegado Sílvio Costa, tomou todas as providências iniciais, arrolou testemunhas e fez os procedimentos necessários logo de imediato”.
E se o crime foi cometido diante de tantas testemunhas, por que o policial civil não foi preso logo, já que não fugiu?, pergunta o repórter.
“As testemunhas ainda não haviam sido interrogadas”, responde José Edson. “No primeiro momento se dizia que foi o Judarley quem deu os tiros, e ele havia fugido. Só na terça-feira, ouvindo as testemunhas, pudemos saber que o Jaysley é que atirou. E aí obtivemos o mandado do juiz e o prendemos”.
Foto antes do crime identifica acusados
O delegado regional de Viçosa, Belmiro Cavalcante, que comanda as investigações, aceitou falar ao Tudo na Hora, por telefone, na noite desta quinta-feira. Ele revelou dados mais recentes e detalhes da dinâmica do crime que apurou até agora.
Eric foi para Viçosa participar da festa do Réveillon. Ele estava num grupo com outras quatro pessoas: dois amigos e uma amiga, os três de Marechal Deodoro, e a namorada, que mora em Maceió.
Antes da confusão que resultou em morte, um dos amigos de Eric fotografou o grupo festivo. Foi essa foto que permitiu o reconhecimento dos dois irmãos acusados. “Na terça-feira depois do crime, a namorada do Eric, vendo a foto, notou o detalhe: dá para ver, ao fundo, a mesa onde estavam Judarley e Jaysley. Aí ela nos contou que o Jaysley a havia assediado várias vezes, inclusive quando ela dançava com o namorado. Ela falou sobre esse assédio com o Eric e pediu para saírem dali, mas o Eric se dirigiu à mesa onde os dois irmãos estavam, não para brigar; ele até desejou feliz ano-novo a eles, mas aí começou a confusão”, disse o delegado.
Testemunha que estava em pé aponta policial
Quem atirou? O delegado diz que apenas uma testemunha, das quatro que ouviu inicialmente – e que estavam próximas da cena – afirmou que Jaysley fez todos os disparos.
O dado fundamental é que essa testemunha era a única que estava em pé durante os tiros e, portanto, pôde ver tudo. Seria a única testemunha realmente ocular. “É a única das quatro que disse ter visto tudo, porque permaneceu em pé depois do primeiro tiro”, diz o delegado Belmiro. “As outras três dizem a mesma coisa: não sabem apontar quem atirou porque se jogaram no chão e ficaram deitadas. Disseram que só ouviram os tiros”.
Ainda segundo os relatos, quando o policial civil Jaysley viu Eric se aproximar, “tirou a arma das costas e botou na frente”, isto é, a pistola do policial, que estava na parte de trás de sua cintura, foi colocada na frente, pronta para ser sacada, uma atitude de ameaça. Jaysley também empunhou uma garrafa de espumante pelo gargalo, provavelmente para atacar o rapaz.
Quando Eric chegou perto e começou a falar, Judarley o agrediu com um soco – nesse ponto todos os relatos concordam.
A quinta testemunha
Mas agora apareceu outra testemunha, diz o delegado Belmiro. Essa pessoa afirma ter visto Judarley, o foragido, atirando no modelo. Então, pela versão dessa testemunha, Judarley primeiro teria esmurrado Eric e, em seguida, sacado uma arma e atirado nele.
Essa testemunha foi uma das duas que o delegado interrogou mais recentemente, depois das quatro primeiras. A outra testemunha recente alega que havia bebido muito e não lembra de detalhes.
Eric foi alvejado em pé, afirma o delegado. Nenhum dos cinco tiros que o atingiram foi dado com ele já no chão. O modelo era um rapaz de porte atlético, tinha mais de 1m90 de altura, por isso deve ter resistido aos impactos dos disparos e só tombou depois.
“Pistola com caseiro não é a do crime”
Outra revelação feita pelo delegado Belmiro ao Tudo na Hora: a pistola calibre 765, encontrada junto com outros objetos na casa do caseiro João Alfredo dos Santos Silva, não é a arma do crime. O delegado se baseia no depoimento do policial civil Jaysley.
“O Jaysley nos entregou a arma dele, é uma pistola PT 380, inoxidável. E disse que a arma do irmão, segundo ele usada no crime, é também uma pistola 380, só que preta”, afirma o delegado. “Aquela pistola 765 não tem nada a ver com o crime, é outra arma do Judarley”.
A pistola 765 foi encontrada na casa de João Alfredo, 34 anos, que trabalha como caseiro para o pai dos dois acusados, o ex-vereador Ailton Oliveira, de Viçosa. Junto com a arma, a polícia encontrou um par de algemas, um aparelho utilizado para provocar choque elétrico, um cassetete e uma mochila grande, que foram entregues a José Alfredo por Judarley, logo após cometer o crime e antes de fugir.
Jaysley, o policial civil preso, aponta o irmão como autor dos disparos.
Exame de pólvora não foi feito: “Seria inútil”
O repórter pergunta ao delegado Belmiro se ele pediu que fosse feito o exame residuográfico de pólvora em Jaysley, como o delegado-geral José Edson havia recomendado.
“Não”, responde Belmiro. “Seria inútil e até poderia beneficiar o suspeito, porque ele teve tempo para apagar resíduos. O próprio juiz negou esse exame e, em lugar disso, autorizou a exumação”.
O delegado tem 30 dias para as investigações. Ele espera concluir o inquérito antes desse prazo.
tudonahora
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